Eu não sou um homem


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(Harold Norse durante seus dias de dançarino em Nova Iorque, foto de Marcus Bleckman)

Eu não sou um homem

(Harold Norse, EUA, 1916-2009)

Eu não sou um homem, não consigo ganhar a vida, comprar coisas novas pra minha família.
Eu tenho espinhas e um pau pequeno.

Eu não sou um homem. Eu não gosto de futebol, boxe e carros.
Eu gosto de expressar meus sentimentos. Eu até gosto de colocar meu braço
sobre os ombros de meus amigos.

Eu não sou um homem. Eu não vou jogar o papel que me foi atribuído – o papel criado
pela Madison Avenue, pela Revista Playboy, Hollywood e por Oliver Cromwell.
Televisão não dita meu comportamento.

Eu não sou um homem. Uma vez quando atirei num esquilo eu jurei
que nunca mais mataria de novo. Desisti da carne. Ver sangue me deixa doente.
Eu gosto de flores.

Eu não sou um homem. Fui preso por resistir ao recrutamento. Eu não brigo
quando homens de verdade me batem e me chamam de bicha. Eu não gosto de violência.

Eu não sou um homem. Eu nunca estuprei uma mulher. Eu não odeio os negros.
Eu não fico emotivo quando agitam a bandeira. Eu não acho que deveria
amar a América ou deixá-la. Eu acho que eu deveria rir dela.

Eu não sou um homem. Eu nunca tive gonorréia.

Eu não sou um homem. Playboy não é minha revista favorita.

Eu não sou um homem. Eu choro quando estou triste.

Eu não sou um homem. Eu não me sinto superior às mulheres.

Eu não sou um homem. Eu não uso suspensórios.

Eu não sou um homem. Eu escrevo poesia.

Eu não sou um homem. Eu medito sobre paz e amor.

Eu não sou um homem. Eu não quero te destruir.

São Francisco, 1972

(tradução de Jeff Vasques)

~ por jeffvasques em 30/05/2013.

4 Respostas to “Eu não sou um homem”

  1. UAU!!! Demais!

  2. Uma das coisas mais bonitas que li nos últimos tempos. Obrigada por tê-lo postado.

  3. Jefferson, caro camarada de tão pouco encontro face a face e tanta palavras trocada!
    Obrigado por postar este poema.

    Um forte abraço,

    J.

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