Tua ausência
tua ausência
me esbarra
na pressa das
praças
tua ausência
nunca
se desculpa
por nada
tua ausência
– às vezes –
me segue por horas
e finjo não vê-la
refletida
nas fachadas
tua ausência
– às vezes –
me aperta no ônibus
me avisa o ponto
adentra a casa
mas
tua ausência
sempre dorme
na sala
tua ausência
passa o café
sopra o leite
faz minha barba
a tua ausência
me olha
– no espelho –
sem palavra
tua ausência
caminha
calada
na calma
das manhãs claras
tua ausência
sábia, mal
fala
tua ausência
se eleva
nos ventos
das copas
e se espalha
na luz
movediça
das folhas
mas
tua ausência
sempre
volta
pra virar
minhas páginas
tua ausência
até mesmo cora
quando se demora
meu olhar no
nada
tua ausência
– tão minha –
chora
quando me ausento
de sua memória
só tua ausência
preenche
a minha
falta
(esboço de cartas para a ausência – resgatando antigos escritos)
ai…