ESPANAR

•02/01/2018 • 2 Comentários

ESPANAR

o parafuso junta
uma chapa
na outra
prende bem as coisas

e há o ser humano

ele mal tinha um olho
tremia o corpo todo
bem pralém
do seu controle

entrou no ônibus
não sei como

(seu cheiro entrando antes)

grunhiu
algo que não se entendia
e chacoalhava
– na mão que menos tremia –
um saco plástico
com um bonito laço
cheio de notas
sujas
de dinheiro.

o parafuso
fixa bem coisas
não as deixa
nem um pouco
soltas

e há o ser humano

ele teve dificuldade
pra se sentar
não conseguia controlar
tantos movimentos
involuntários
urrava de tempos em tempos
– consigo? conosco? –
parecia querer ir
pra barão geraldo
– onde eu moro –
tão magro
mal tinha um olho

o parafuso
impede que
as coisas se movam

e há o ser humano

o meu peito me dizia
que ele não tinha
bem condições
de se locomover
de comer
defecar
de brindar o ano novo
mas vem
de algum jeito
subindo em ônibus
até este 31
de dezembro
rumo a
2018

(fingia pra mim mesmo
que alguém o esperava
com um guarda-chuva
no ponto
pra lhe poupar
desse aguaceiro…
e que iria
protegê-lo
desses fogos todos
que vamos
lhe cuspir à cara
na meia noite
de hoje…)

o parafuso
com sua rosca
esmaga uma placa
na outra esgana

e há o ser humano

eu não conseguia
olhar direito para esse homem
não me sentia digno
(qualquer dor no meu olhar
seria ridículo)
e mais que isso
parecia que
algo em mim
iria se soltar…

eu não sei bem o quê…
se meus músculos dos ossos
se o grito do olhar
se a carne dos sonhos

essa ameaça de tudo
se desintegrar
sem sentido

e para me salvar

fixei meu olhar
à frente
no ônibus

assim, reto,
sem desviar

e, ali,
um parafuso!

tão sólido
tão duro

tão imóvel
mudo

prendia uma chapa
na outra

prendia tudo
tanta coisa

e me prendia
a esse mundo

que ignora

onde andará
– agora –
esse ser humano.

Poema para a educação moral e cívica

•17/10/2017 • 3 Comentários

POEMA PARA A EDUCAÇÃO MORAL E CÍVICA
(recomendado para maiores de 18 séculos)

este poema
sem que você per
ceba coloca
– gentilmente –
em tua bo
ca buc
eta pin
to cu te
ta.

sorry,
eis já a treta…

não há mais nada
a ser feito, querido,
aguenta

as imagens
já vão
– guela abaixo –
descendo

aproveita e sente
isso tudo aí
dentro….

não tente cuspi-las
não, nem é possível
deslê-las

sim, duro ter sido
assim
atraído
por um título
duvidoso,
mas sei, algo aí
sente, também,
o prazeroso
deleite de ler
esse leite
jorrando
quente
esse maná
manando na
mente…

(shiiiu, aqui entre parênteses,
eu sei de você fechado em teu quarto
a sós com este texto
– fique tranquilo,
estamos só a gente –
eu guardo bem teu
segredo esse teu
clandestino desejo
que te faz seguir
me lendo re
lendo re
virando os
olhinhos entre
abrindo os
dentes nesse
gozo da
sua língua
soletrando
a minha)

perde o medo e
aceita,
terás que conviver
com esse gre
lo em teu ra
bo quero dizer
com esse feito
esse fato

não meta,
quer dizer,
não tema!

é só uma
punheta
um poema
um punhado
de pa
lavras
larvas
na tua
cabeça

é só arte
abstrata
escorrendo
de sua boca
esse prazer
da porra!

não esquenta!
não pira!

a vida
mesmo
não tem
dessas
coisas

– caralhovaginaprazertesãoalegria –

não,

a vida
é pura

censura…

16 mil
crianças
morrendo
de fome
por dia.

não há fuga

•10/04/2017 • 1 Comentário

7adad2a20e37bd51a383627efa439c89

não há
fuga

a vida
ruma

uma

mas há
rumos

e mais
rumos

numa

do impensável

•04/04/2017 • Deixe um comentário

17635297_1294757930559467_2199143779342115505_o

[foto de Aline Losada]

do impensável
nasce o
impossível

do impossível
se nutre o
improvável

do improvável
cresce o
imprevisível

do imprevisível
floresce o
o inesperado

e do inesperado,
eis seu fruto,
doce,
impassível.

hasteia

•13/03/2017 • 2 Comentários

hasteia
tua tristeza
tão alto quanto
possas…

quanto mais
gente a veja,
menos tua,
mais nossa.

sei que
triste
segue
a tristeza

mas, veja,

se nos céus
se encontram
nossos olhos

mais que dor

empunhas
uma bandeira.