Ana Perez Cañamares (Espanha)
Conheci a poeta espanhola Ana Perez Cañamares através da querida Poli que está por Madrid e se identificou muito com seus poemas. Como a Poli fez aniversário há pouco, segue aqui algumas traduções de presente ;)
Salamandra
Eu fui esse mago que se reinventa
escapando de todos os cárceres.
Apenas fiel a um mutante sentido
de lealdade comigo mesma.
Vos peço perdão se vos deixei pra trás
se viveram como traição
minha necessidade de transformação.
Mas é que ao soltar as correntes
dentro dos tanques de água
era minha vida que estava em jogo.
O mago aposentado pede perdão
a quem o amou o suficiente
para doer-se de sua fuga.
AS PEDRAS
Durantes as férias
recolhemos pedras
que o mar nos presenteia
São as pedras com as quais logo,
no inverno, reconstruímos
as ruínas de nossas guerras.
Não só lhes pedimos
que resistam.
Também que nos recordem
que o mar existe.
ETIMOLOGIA
Antes que cremassem
minha mãe, meu irmão
pegou o microfone
que nenhum padre iria usar
e disse: “Se uma mãe
é na verdade pátria,
hoje ficamos
sem pátria e sem mãe”.
(A etimologia não está
sempre distante
da verdade).
Desde então tenho tentado
levar dignamente o exílio:
vigiando que se mantenha viva
a língua que falamos
os expulsos do paraíso.
RESISTÊNCIA
nem bancos, nem exércitos
nem telejornais ninguém
ninguém decide a hora da alvorada
ninguém pára uma tormenta
ninguém faz “psiu!” pro pé-d’água
SE EU DISSESSE
Se dissesse que nunca amei ninguém assim
seria terrivelmente injusta com o passado e seus habitantes.
Se te dissesse seria de uma precisão
cruel, desnecessária.
Mas te digo: nunca amei ninguém assim,
porque ser honesta está em meu temperamento
porque aprecio a linearidade das fórmulas
os índices dos livros de instruções.
Porque sei que tu gostas
que ressurja do lodo das dúvidas
e brinque de ser deusa
que desce do céu para trepar com um humano.
Muchas gracias, qué sorpresa!
Un abrazo fuerte,
Ana
Ana Pérez Cañamares said this on 10/06/2011 às 9:29 am |